sábado, 16 de maio de 2009

Sobre o mirandês falado na raia (2)



[cuntinaçon]



La, de la: muitas vezes nos artigos que indicam posse, na forma de la corta-se o de. Isso acontece muito em topónimos, i.e : balle la ..., ourrieta la ..., e não balle de la... nem ourrieta de la... Pois também dizemos la cinta la raposa (arco iris) e pouco la cinta de la raposa. No entanto isso depende das pessoas e às vezes o de aparece.

-miento: corresponde ao sufixo português –mente e aparece na raia [4]. Pode ser impressão minha, mas parece ter mais uso em Samartino do que nos outros povos da raia. Aparece assim: cimiento, casamiento, pumiento,... Mas já é pouco usado. José Leite de Vasconcelos acrescenta as seguintes palavras[4]: sacramiento, testamiento.

-os, es: o sufixo –os passa a ser –es em aldeias como Samartino, onde o fenómeno é muito claro e aparece em todas as palavras assim terminadas. No entanto também observei o fenómeno numa pessoa da Pruoba em quase todas as palavras em –os, e também numa pessoa de Cicuiro mas com menos frequência, apenas de maneira ocasional. Em Samartino onde isso acontece mais vezes, temos exemplos como: manes, medicamientes, gates, perres, caches, chanes, ...

Los, als: a Convenção Ortográfica actual apenas apresenta uma única solução para o artigo masculino plural mirandés, ls. No entanto, na raia, ele é de pouco uso. Sendo muito vulgar los em Cicuiro i Custantin i als em Samartino. Na raia parece ser Samartino o único povo em usar als.

u,e: notei em Cicuiro a alteração de e para u em palavras conhecidas como Pertual e semana que passem a ser Purtual e sumana. Tambem temos quelores > culores, delores > dulores.

g: esta letra entre vogais pode conservar-se (i.e : ruga), desaparecer (i.e : rua), ou ainda transformar-se em y (i.e : triyo). Este último fenómeno chamado epêntese ou iotização [5] aparece na raia, no que eu sei em três povos: Paradela (em quase todas as palavras com g intervocalico) e em Custantin e Cicuiro, ja com menos frequência. Porém esse fenómeno devia ser generalisado a essas três povoações porque ainda hoje em Cicuiro se pode ouvir fiyura ou triyo. E as pessoas mais antigas lembram-se, quando eram crianças, de ter ouvido a velhos palavras como cuntiyo e amiyo.
Desses vários exemplos parece que se pode deduzir uma regra que poderá ser usada para novas palavras:
- g entre u-a : desaparece ou conserva-se (i.e : ruga / rua).
- g entre i-o ou i-u : transforma-se em y (i.e : amiyo, fiyura).
Pode, por exemplo, aplicar-se esta regra para a introdução da palavra de vocablo matemático trigonometria que em mirandês seria triyonometrie. No antanto, pela influencia do português o g tende a conservar-se sem a transformação para y, sendo agora trigo, amigo, contigo,... Porem ainda se conserva a palavra fiyura em Cicuiro. Notem que é em Samartino onde o g se conserva na palavra ruga e desaparece em Cicuiro e Custantin onde se diz rua (e não rue como aparece nas placas toponimicas). Nestas duas aldeias existe a palavra ruguita, sem alteraçao do g, para designar uma pequena rua.


Referências :

[4] José Leite de Vasconcelos, Dialecto Mirandez, 1882, p.13.


Thierry Alves

[cuntina]




4 comentários:

  1. Subre l y an sustituiçon de "g" pertués nalgua palabras, esse porblema yá fui puosto cumo sendo un porblema de l Sendinés. Quando se pon l sentido de l porblema cumo sendo Sendinés ye todo mundo contra(esso ye l que you beio). Na respuosta de la purmeira adenda fui negada la alteraçon i diç assi:

    "Parece-nos perturbador que se elimine o g das palavras em -igo, porque isso iria criar confusões e alterar demasiado a configuração "canónica" das palavras. (Por exemplo, uma palavra que se escrevesse trio, seria "trio" ou "trigo"?) Basta explicar aos aprendizes da escrita que sempre que escrevem, ou virem escrito, um i em sílaba tónica seguido de g, o g não se lê em sendinês."

    Sendo un porblema que nun de l Sendinés (pus tu arriba dizes l mesmo porblema) i até apersentas la que me parece ser la melhor seluçon(screbir cun y) nun sei porque nun se aplica essa alteraçon.

    Screbir amiyo; triyo; fiyo....passarie a ser la norma.

    Cristóvão Pires

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  2. Cuido que l que screbiste se debie scachar inda an cachos mais pequeinhos pa çcutir melhor.

    Tornei a ler i adonde dizes:
    u,e: notei em Cicuiro a alteração de e para u em palavras conhecidas como Pertual e semana que passem a ser Purtual e sumana. Tambem temos quelores > culores, delores > dulores.

    Hai ende ua separaçon pequeinha antre u/e. Se nun fusse pula anfluéncia de la scrita que atualmente se bei hoije por ende, you scriberie(sou de Sendin):
    Portual; colores i delores(esses tous u pula matriç "pertuesa" que seguiu la cumbençon scriben-se "o" mas leis "u").

    Ende mistura-se un porblema "co"/"que" na palabra quelores/colores. Esse porblema stendesse a muitas mais palabras. Ye "quemer" ó "comer"? ....

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  3. Definitivamente, Tiérry, depuis de llier lu qe tenedes ende screbidu veyu qe nós falamos lu mesmicu qe vusoutrus. Lus mesmos rasgus, la nousa fala ye mui asemeyada. Al rayanu ye muitu más sturollionés, tien más pureça, .
    P. D. lu qe dizes del Alistanu, nun ye pasáu; entodavía hai xiente qe lu fala, pouca mas hai-la (la xiente fala nas súas casas más nun ye asina na cai, hai mueita vergonna, porqe piensan qe "hablan mal" ou qe falan una mestura "chapurriáu") y stamos a tiempu de nun la scaeicere, habemos a cunservala.

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  4. >Ye "quemer" ó "comer"? ....

    La respuosta ye mui simples... las dues palabras son buonas !

    An quanto al Alistano you gusterie de l'oubir un die a ver cume ye. A ver cume sona, se sona a lo que you sei dal Mirandés.
    Oubie dezir a quien sabe que an Castro d'Alcanhiças inda hai quien lo fale.
    Mas nal que you sei, ye que dalguas bezes ouben-se palabras meio mirandésas an Mubeiros pur eisemplo. Eilhi oubie (nal bar 2000 :) ) bollo i mullir (mujer).

    Eiqui se resume al miu Alistano. Un gueiteiro de Trabancas dixo-me que ya nun se falaba, pul menos eilhi, agora'l resto nun sei.

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