sábado, 23 de maio de 2009

Notas sobre a queda do -g- em mirandês (3)




IV - QUEDA DE –G- DEPOIS DE –U- EM MIRANDÊS


Mirandês............................................Latim
nogueira nuoeira (nozeira – nuoç)......nŭcaria-
tartaruga tartarua, tartua ...................tartaruca (ital.)
Pertual ...............................................Portu + cale-
auga, aua ..........................................ăqua-
augadeira........................................
frauga, fraua......................................fabrĭca-
lugar, luar..........................................locale-
alugar, aluar......................................ad + locāre


Notas:
i. A queda de g nestes casos é menos frequente e, ao menos hoje, não pode ser considerada como regra geral, como já se tem querido sustentar. Talvez o caso mais próximo dessa regra geral seja a fala de Ifanes, pois só aí se verifica a queda do g em palavras como aua, auadeira, fraua, luar, aluar. Esta incidência da queda em Ifanes poder ter a ver a sua colonização por leoneses nos séc.s XIII e XIV o que pode mostrar que o fenómeno foi importado, mas tal não é seguro afirmar-se.
ii. Alvarez Maurin (1994, 238) documenta em documentos leoneses: 1005 nugares, 1039 nugales, 1078 nucale, 1164 nogar.
iii. Mas angurriar de in+rugare, não cai o g.
iv. Sabugo (Alvarez Muarin, 252, documenta a palavra em 972) também não cai o g, do latim sabucus. Também deu sauco, talvez devido à influência do sufixo –uccus, embora Alvar pense que é antes moçarabismo.
v O caso de fabrica é especial e a sua queda é uma excepção, pois o latino –i- é breve. Daí que a queda se deva ter dado já mais tarde.


vii. Outros casos:


Mirandês..........latim
brugo...............bruchu-
fogueira...........fŏcārĭa-
fuogo...............fŏcu-
jugo.................jŭgu-
lougo...............lŏco (ablativo de locus)
sabugo............sabūcu-
ferruge............ferrūgĭne-
fugir................fŭgīre


António Bábolo regista em Picuote a palavra bru, com o significado de bicho (da seda). Segundo ele também “designa a larva que come as folhas de algumas árvores, sobretudo do freixo e do carrasco” E acrescenta: “No dicionário de Cândido de Figueiredo encontramo-la com a classificação de provincianismo transmontano. Corominas lembra que a origem etimológica (bruchus) corresponde ao português antigo brugo” (93). Com essa palavra relaciona bruído, “barulho constante e não muito forte, como o produzido pelos brus quando comiam a folha de amoreira”.




CONCLUSÕES

O fenómeno não é exclusivamente sendinês, mas é bastante espalhado por toda a terra de Miranda, com incidência em algumas palavras e particularmente em Águas Vivas, S. Pedro da Silva, Constantim, Paradela, Ifanes e Peinha Branca, onde aparece até em topónimos. Esses são casos referidos por Maria José Moura Santos que daí conclui tratar-se de um fenómeno de periferias. Mas tal conclusão é discutível pois na altura em que o fenómeno surgiu é discutível que essas fossem as fronteiras do mirandés ou, dito de outra forma, do leonês em Portugal. Mas parece que o fenómeno apenas é geral, quase sem falhas, em Sendim. Manuela Barros apenas levanta, no entanto, uma ponta do(s) véu(s): esse é um fenómeno do mirandês e não apenas do sendinês, fenómeno com marca leonesa clara. A partir deste dado, o problema tem de ser reequacionado e ganhar outra importância ao nível do mirandês. Para já, esta parece ser uma das jóias da coroa do sendinês.

Lisboa, versão de 25 de Julho de 2003

Amadeu Ferreira




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