[cuntina]
h > g: em alistano e até no espanhol falado em Aliste pode-se observar uma troca do h para g (i.e : huevo > guevo, huerto > guerto) e mais antiguamente hoy > güei. Esta ultima forma ainda é hoje usada em Lionés e Asturiano.
Há centenas de anos atrás a fala da raia e o alistano deviam de ser quase idênticos, pois os casamentos entre as duas terras eram frequentíssimos, e a vida no dia a dia era em comum. Tradições como as músicas, os carochos ou ainda a feira da Luz são testemunhas deste passado comum. Será então possível que na raia houvesse essa tal confusão entre h e g ? José Leite de Vasconcelos em Dialecto Mirandez aponta que era assim na raia [6]. Possivelmente antes dizian-se na raia palavras como: guobo, guorto, goije, goi, ou güei. Isso necessita confirmação. Se esse for o caso, não seria mal de reintroduzir tal fenomeno, pelo menos na modalidade raiana.
b > g: a transformação de b para g é muito frequente em mirandês. Aqui seguem vários exemplos : resbalar > resgalgar, abono > guano, vomitar > agomitar / gomitar, bilo > guilo, broma > groma, burbulha > gurgulha, ribeiro > rigueiro, ...
Em mirandês tambem temos a palavra abuolo/abuola para avô/avó, que por influência do português se reduziu a abó/bó. Em virtude da transformação b para g é possivel que tambem tenha existido a palavra aguolo/a ou guolo/a (i.e: guelo/a em asturiano).
nal, no: a Convenção Ortográfica apenas menciona o ne l que não aparece na raia. Pois ouve-se agora muito no (provem de ne lo), certamente por influência do português. No entanto, em outras modalidades astur-leonesas que não estão em contacto com o português tambem existe o no (nu). Ouvi nal e nel em Samartino, mas ja é de pouco uso.
dal, dals, de los: aqui a Convenção Ortográfica apenas aponta o uso de de l e de ls, porem na raia usa-se dal e de los. Usa-se dals para o plural de dal em Samartino.
ligações com o -s terminal: menciono aqui que em mirandês se faz a ligação entre o –s terminal de uma palavra e a primeira letra de seguinte se essa for uma vogal. O s soa então como o s intervocalico que irei aqui reprensentar com um ź e que soa algo como o j do francês, isso é :
- los panes soa como luspanes.
- los outros soa como luźoutrus.
n: aparece um n intervocalico, que eu saiba, apenas em duas palavras entre i e a. Eis os dois casos : aqui > aquina (Infainç), ostia > ostina (Cicuiro).
-airo : apenas ouvi uma vez este prefixo numa mulher de Ifanes na palavra campanairo que logo ela corregiu por campanario. Tambem me disseram que em Samartino se dizia almairo, mas agora já é almario. Neste caso vê-se muito bem a influência do português, pois Leite de Vasconcelos não nota essa alteração [7].
CONCLUSÕES
Aqui se apresentaram algumas características do mirandês da raia (Samartino, Cicuiro, Custantin, Paradela e Infainç). Características que podem também ser comuns com o resto das modalides do mirandês. Este pequeno estudo tem apenas o objectivo de acrescentar algumas informações sobre as diferentes maneiras de falar, mostrando assim a riqueza do mirandês tanto na fala como na escrita.
Referências :
[5] P. Antonio Mourinho, Subsidios para um tratado de dialectologia portuguesa : gramatica mirandesa, fonética, LINGUA PORTUGUESA - volume V, p.277.
[6] José Leite de Vasconcelos, Dialecto Mirandez, 1882, p. 17, p. 23 nota 30, e p.39.
[7] José Leite de Vasconcelos, Dialecto Mirandez, 1882, p.14. e
Thierry Alves
Buonas nuites
ResponderEliminarInda hoije la terminaçón "airo" ye mui quemun i siempre tengo oubido dezir "almairo" ... "campanairo" ... "rosairo". Al que nunca oubi fui la palabra "óstina" que me parece querer dezir "óstia".
Quanto al "abono", esta ye ua palabra castelhana, mui usual an Samartino, al cuntrairo de outras tierras que dizen "adubo". Esta palabra ye un neologismo no mirandés que solo aparece cula reboluçón andustrial, ou seia: un químico que fai las bezes de "stierco" i de "palombina".
Outra de las palabras castelhanas adaptadas por Samatino ye "remolacha", chamada de "raba" noutros sítios.
A este respeito alerto pal cuidado que debemos tener quando escuitamos las pessonas de las bárias tierras porque la antoaçón de las palabras an frente a çcuincidos puode quedar adulterada por demasiado zelo ou por anfluénça de l pertués.
Buonas nuites,
ResponderEliminarL testo de Thierry ten muita cousa a sclarecer. Hai que buscar anformaçon por outros lhados, i esso hai que l fazer i lhieba tiempo.
Quanto a palabras acabadas an -airo, quiero eiqui deixar dezido que an sendin hai trés palabras que solo se dízen cun -airo: benairo, almairo, rosairo.
Hai quien diga tamien neçairo, mas ye mais ralo.
L resto queda para outros testos.
Amadeu
Ye mie mai que diç ostina. Solu l'houbie a eilha anté hoije.
ResponderEliminaryou inda pensei que -airo aplicaba-se a mas palabras ! Anton quier dezir que segundairo, primairo, minoritairo, ou uonibersitairo son palabras que nun eisisten, ye ?
ResponderEliminarGracias, i buonas nuites.